sábado, 2 de abril de 2016

Capítulo II Os 11 membros seniores da Ordem dos Militares

Em um porão, dois andares abaixo da Igreja da Santa Cruz dos Militares, em plena Avenida Primeiro de Março, no centro da cidade do Rio de Janeiro, um senhor de cerca de 80 anos caminhava por um corredor escuro e úmido, as paredes eram de pedra.

Marcio Penna ainda como cabo fora taifeiro de vários Almirantes da Marinha de Guerra.  Possuía o perfil discreto e subserviente que se esperava para alguém dessa profissão. Não fazia perguntas e estava sempre por perto quando se precisava de alguma coisa. 

Depois de algum tempo passou a servir o presidente-general Figueiredo e acabou se tornando um expectador privilegiado de algumas das principais reuniões onde se decidiu as ações a empreender para a abertura política do país.

Marcio jamais pôde explicar a si mesmo porque decidiu aceitar o convite de vir para a Ordem Militar. Descansou em casa, na reserva, pouco mais de 20 anos, quando, numa manhã de dezembro recebeu um telefonema de seu último chefe.

__Quer entrar para a história desse país? Foi a primeira frase que ouviu.

Ele nunca dissera não a um superior. É o conhecido temor reverencial, que impede que alguns subordinados sequer esbocem em suas mentes uma negativa em relação ao que um militar mais graduado ordena. No telefonema o General Antunes lhe convidou para, por conta da confiança que sempre inspirou em seus superiores - ressaltou o oficial - ingressar na organização mais secreta do país.

Mais uma vez ele disse Sim para um superior.

As reuniões eram apenas duas vezes por mês. Mas, o velho marujo passava a maior parte do seu tempo ali. O pessoal da igreja, dois andares acima, achava que ele se limitava a navegar na internet e catalogar os livros da grande biblioteca de história militar. Na planta oficial constava que a biblioteca era o único cômodo do porão. Mas, havia uma passagem secreta que dava para o porão inferior. Este segundo porão tinha diversos túneis e até uma saída para a Bahia da Guanabara, a cerca de 400 metros dali, nas proximidades da Capitania dos Portos da Cidade do Rio de Janeiro.

Marcio era subserviente, mas nada tinha de ingênuo. Os anos que passou junto das maiores autoridades militares do país o tornaram bastante perspicaz em matéria de política. Como seus superiores na ordem dos militares, ele acreditava que o governo socialista do Brasil tinha que ser detido o mais rápido possível. Se isso não ocorresse o futuro das próximas duas gerações estaria seriamente comprometido. 

Ele já era um velho, sabia disso. Para ele não haveria mais futuro. Contudo, tinha um neto de apenas nove anos. Fazia tudo aquilo por ele.

Era exactamente 21:30 quando o velho taifeiro empurrou a porta pesada, de madeira maciça.

__Eles já estão no local. Disse

Na sala, sentados ao redor da mesa, estavam os 11 membros seniores da Ordem dos Militares. Todos septuagenários. Eram oficiais generais reformados, ex-membros do, agora extinto, Serviço Nacional de Informações.

Ao longo de mais de trinta anos eles vinham se preparando para esse momento. A ordem possuía, além dos seniores, mais vinte membros. Todos eram militares da reserva e tiveram suas vidas minuciosamente investigadas antes de ser convidados para o ingresso. Numa operação desse porte somente os seniores teriam conhecimento pleno de todos os detalhes. Contudo, toda a ordem sabia que havia uma operação em curso. Cada um fazia a sua parte independente de conhecer os objetivos finais a ser alcançados.

Naquele dia o grão-mestre tinha em mãos um documento antigo. Foi-lhe passado por seu antecessor que, por sua vez, o recebeu das mãos do General Golbery do Couto, a brilhante mente por traz da contra-revolução militar iniciada em 1964.  

Em 1987, pouco antes de falecer, o todo poderoso General Golbery do Couto e Silva, então presidente da Ordem dos Militares, disse em uma reunião realizada em sua residência que era quase certo que chegaria o dia em que os militares teriam que agir novamente para retornar o país à normalidade democrática.

Esse plano seria uma espécie de remissão para Golbery, que percebeu, tardiamente, que havia cometido um grande equívoco quando permitiu que a esquerda se apoderasse de pontos chave na mídia brasileira. A princípio ele acreditava que a influencia norte-americana, extremamente anti-esquerdista, que crescia em todo o planeta, aliada à presença efetiva das Forças Armadas brasileiras em ações humanitárias tornaria a opinião daqueles jovens jornalistas insignificante. Porém, nessa questão Golbery errou feio. mas, só percebeu isso algum tempo depois.

Já nos anos 80 Golbery percebeu que ao abordar a contra-revolução de 64 a academia e mídia partiam quase sempre do momento em que o Marechal Castello Branco assume a cadeira de Presidência da República. Ao mesmo tempo em que os EUA abandonaram sua proposta anti-socialista o controle da mídia foi, de forma gradual e sistemática, utilizado para empreender uma verdadeira revolução cultural no Brasil. 

Qualquer um que lê um dos textos da época, ou assiste a um discurso esquerdista, o hegemônico, chega facilmente a conclusão que os militares “do nada”, ou apenas porque desejavam o poder, resolveram destruir uma linda e impecável democracia.

No fim de sua vida o velho já havia concluído que era inevitável que a esquerda chegasse ao controle no Brasil. Naquela época ainda havia quem se lembrasse da verdade. Mas, depois de vinte ou trinta anos tudo estaria mudado na mente da sociedade brasileira. Golbery percebeu que o exército não havia posto em prática uma lição ensinada nas academias, que diz que silêncio dos fuzis quase sempre não determina o fim do conflito.

Dito e feito. No início do século XXI a sociedade já estava completamente pré-condicionada a aceitar como corretas as várias iniciativas populistas reclamadas pela classe política. As mesmas lideranças inescrupulosas que tentaram dominar o país havia apenas três décadas já eram vistas como heróis da democracia e em pouco tempo chegariam ao topo do Executivo e Legislativo brasileiros.

Experientes e com o ranço que caracteriza os derrotados, estes políticos fariam o que Goulart tentou fazer nos anos 60, Eles escolheram os próprios chefes militares entre pessoas que compactuam de seus pontos de vista. 

A exemplo do famoso Almirante Cândido Aragão - homem de Goulart e uma das peças chave do Movimento dos Marinheiros de 1964 - estopim da revolução de 31 de março, um alto comando “escolhido a dedo” retiraria das Forças Armadas qualquer poder de dissuasão interno, e possibilitaria à esquerda permanecer no poder até que o país fosse completamente destruído, para então ser reconstruído nos moldes da loucura marxista que move as mentes ensandecidas da classe política nacional.

O velho bruxo deixou registrado as coordenadas dos locais onde estaria armazenada uma fortuna em ouro e pedras preciosas. Os recursos só deveriam ser utilizados se o país chegasse realmente nas condições em que se previra. Independente da data em que isso ocorresse. 

Golbery acreditava que um pequeno grupo de homens fieis, preparados e com a estratégia correta, poderiam, se necessário, acender um estopim que culminaria com outra contra-revolução que iniciaria o percurso de volta para a democracia.

Na capa do calhamaço de papeis o velho bruxo deixou uma única frase registrada para que os membros da ordem estivessem atentos aos acontecimentos.

-- “A previsão era a razão pela qual o príncipe esclarecido e o general prudente venciam o inimigo, quaisquer que fossem os seus movimentos.” --

A Ordem dos Militares, por decisão do conselho de seniores, já havia usado parte significativa da fortuna. Ainda no final dos anos 80 adquiriram, por intermédio da CIA, uma quantidade razoável de armamento portátil de boa qualidade e este se encontrava ainda em ótimo estado de conservação.

São 800 Fuzis Automáticos Leves, 200 Kalashnikovs AK47, 25 fuzis franceses de assalto do tipo FAMAS 5.56 e 10 Barrets M82. Todo o material era mantido em ótimo estado de conservação pelos membros da Ordem.

O Grão Mestre da Ordem, general de Exército, olhou demoradamente para cada um dos presentes e, após isso, perguntou:

__ Podemos dar prosseguimento ao plano? Votemos agora.

Ele não votava, salvo se o resultado fosse empate. 

Mas, não foi necessário.

Todos votaram “sim”.

Não havia dúvida de que a decisão seria apoiada pelos demais membros da ordem. Resultado semelhante ocorreu há apenas dois anos, quando se decidiu eliminar sumariamente um oficial do exército que planejava revelar segredos sobre a ordem secreta. 

A decisão foi cumprida rapidamente. E tudo foi feito de forma que parecesse um crime comum.

A sociedade é incapaz de entender isso. Mas, talvez esteja na sociedade militar o único lugar onde realmente se encontre a verdadeira democracia.

__ Obrigado. Iniciamos agora então. Em poucas horas saberemos o resultado.

Em poucos minutos, em vários locais da cidade, mensagens chegaram em telefones celulares. 

O velho general se levantou da cadeira. Somente após se afastar da mesa os outros se levantaram. Com ar sóbrio, se despediram com acenos de cabeça. A partir daquele momento só podiam aguardar, os acontecimentos se dariam como em uma sequencia automatizada. 



Um comentário:

  1. Seria muito bom se houvesse mesmo uma sociedade secreta de veneráveis ex-militares velando por nós... Aguardo os próximos capítulos.

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